segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

CANALHOCRACIA

Tu vais e vens mas dentro de limites.Fixados por uma lei que não chega a ser tua.Nós temos em comum a experiência do muro.Eugène Guillevic

Tenho-me esforçado no criticar a aristocracia institucional brasileira ‑ por ela mesma assumida “elite brasileira” ainda que à mão grande ela costume peitar benesses no sistema democrático como decisora de lei e de organização social ‑; faço-o sem ofensas nem apodos. Quando a aponto à apreciação pública por causa de interesses nebulosos costumo caracterizar seus agentes como “patifes ilustres”; por empréstimo que faço do conceito ético-moral do filósofo David Hume (Patifes ilustres são aqueles agentes sociais públicos que decidem e julgam as questões segundo seus interesses privados porém os disfarçam sob artigos de lei, regulamentos e normas; para que não se evidencie a “mão leve” com que se nutrem às custas do público).
Todavia, há fatos que não permitem branduras. O parlamento nacional se tem mostrado sequioso de botim no Erário Público, ora a Câmara ora o Senado avocam verba de compensações-gratificações pelo e para o trabalho de “representar a sociedade brasileira”, da qual, no entanto, representam a “afluência” e não o trabalho e a nacionalidade. Os virtuosos canalhas dos tribunais superiores têm mostrado a cupidez pelos “consensos negociais e políticos” que fariam nossa “civilidade” e “jurisdicionalidade”. Recentemente a patifes ilustrados do TSE decidiram, mais uma vez, render prazo num julgamento eleitoral da Paraíba, “avocando vistas” depois de dois anos de estudos e debates. Ora, esses vagabundos e corruptos conheciam demais do que se estava tratando, porém usando de “prerrogativa regimental” adiaram o julgamento; tudo isso feito às vistas da nação perplexa com a criminosa empreitada.
Agora, os “patifes ilustrosos” do Supremo Tribunal Federal passaram recado aos demais poderes: querem aumento (querem não; exigem!) porque sua condição de aristocracia funcionalista ‑ de que depende, em “última instância”, a exação do regime democrático ‑ está sendo demonstradamente “fragilizada” pelas pesquisas econômicas de custos, preços e salários.
Esses “ex-patifes ilustres”, melhor dizendo, toda a canalha dessa canalhocracia que se institucionalizou, vai suportada não apenas por alguma mão ligeira da corrupção burocrática nem pela “falta de decoro parlamentar” de voto a prêmio; sim pela higidez que os poderes deviam ter. Porém, são principalmente os poderes Executivo e Judiciário que modelam e sustém o Estado democrático (e social) de Direito; e sua conduta, naturalmente. O que nos resta, então, senão gritar: Abaixo a canalhocracia!

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

RESERVAS ESTRATÉGICAS

As informações fidedignas que estão circulando sobre a Petrobras, a Halliburton, o pré-sal, a ANP e Obama nos estão levando para não apenas "nova luta do Petróleo é Nosso" mas para exigir do governo Lula e do PT esclarecimentos sobre o que está definido sobre este tema estratégico. Creio que devemos fazer uma pauta exclusiva sobre o petróleo brasileiro, com a criação de um sítio exclusivo sobre o controle brasileiro dessas reservas estratégicas. Atentemos que a ANP e seus dirigentes não estão merecendo a nossa confiança.Saudações socialistas.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

A CORRENTE LÚCIDA

Se você já sabe, passe adiante. É parte de uma palestra que fiz a universitários:
A (custosa) compreensão de que a dominação social ideológico-política ‑ que é afirmada e reafirmada pelas palavras e informações que vão atingindo toda a sociedade ‑ só se vai esclarecendo melhor agora, quando o “pensamento próprio”, a “informação com autoria comum” e a “opinião que sai do anonimato” (por meio de um “aparelho sem patrão” que é o computador), é, para cada, um ponto de vista pessoal, a palavra liberta, a expressão democrática. Leia outra vez: deu para entender o que foi escrito? É correto? Bem... cada expressão acima será verdadeiramente exata se considerarmos duas coisas: 1) o que se falava ou escrevia antes do acesso à nova tecnologia do computador era abafado pelos meios de “comunicação social” (imprensa, rádio e televisão que impõem a sua seleção de todas as notícias e informações para toda a sociedade de leitores e ouvintes, até mesmo como “portavozes” políticos das classes dominantes e dos governos); 2) a descoberta a que “só agora todos chegam” de que a notícia e a informação são produzidas e distribuídas por quem tem um meio à disposição (um transmissor de idéias e pensamentos) e esse meio pode ser apropriado por alguém, contra os interesses de todos os que vivem em sua condição subalterna.
É isso que vêm estudando e discutindo as pessoas e os grupos de movimentos empenhados em “meios alternativos de comunicação social”: livrar as pessoas da pior das ditaduras que é do domínio privado, por algumas pessoas, famílias, grupos, empresas e sistemas das notícias e informações que dizem escolher no “interesse da sociedade aberta”, “democrática” e “politicamente livre”. Por favor, novamente: você entendeu o que se passa? Eles roubam os meios sociais.
Surge, então, novo problema: muitas dessas pessoas que passaram a ter a oportunidade de se comunicar por computador começaram a fazer o exercício da escrita e da fala públicas, e se estão deslumbrando como “escritores, oradores e comunicadores de idéias para os outros”; e em vez de uma comunicação entre iguais, de uma interação social, de um proveito comum, passaram a fazer a mesma coisa da Imprensa Dominadora: a ditadura de idéias, informações e contorções, enchendo o saco dos demais. E então, uns podem fazer isso e outros não; se todos vão tendo os meios? Não! Todos podem comunicar suas necessidades, desejos, aspirações, sonhos e projetos; mas também aprender coisas essenciais antes de querer ensinar experiências.É aí que o bom-senso nos adverte: procure conhecer o que você não sabe. Procure informar apenas o que você sabe mesmo, de verdade técnica e científica. Não ceda à tentação de opinar o que não estudou corretamente; não queira disputar pessoal e intelectualmente com quem expõe fatos, dados, suas origens e as consequências deles. Em resumo, seja modesto e prudente e não imite os idiotas que respondem a uma notícia, a uma informação, a um estudo, e até a um ensaio com o descaso de quem se ofende porque outros sabem mais; e aí divulgam “coisas similares”, paralelas e de importância menor para se gratificarem como autores, escritores, oradores; e acabam desviando a eficácia da comunicação. Não admitem descansar seu egoísmo, em seu desespero de disputar o pódium a qualquer preço. Não ouvem, querem falar; não entendem, querem ensinar; não são os mais preparados porque não estudam pacientemente, mas querem aparecer. Usemos a internet e outros meios de comunicação; primeiro para colher sementes, depois para as ir plantando. Obrigado pela paciência de ouvir, isto é, ler.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A CABEÇA DE BATTISTI

A CABEÇA DE BATTISTI
Sebastião Nery
O carrão preto, motorista de libré, parava na porta da embaixada do Brasil em Roma, na Piazza Navona, em 90 e 91. Descia um senhor baixo, 80 anos, terno escuro, colete cinza, camisa branca e gravata. Um dos homens mais poderosos da Itália, conde do Papa, banqueiro de Deus, ia buscar-me para almoçar, a mim, pobre marquês, adido cultural.
Íamos aos mais discretos e charmosos restaurantes de Roma, com os melhores vinhos da Itália. Às vezes o almoço foi no palacete dele, na Vila Archimede, no alto do Gianicolo, ou, em um domingo de sol, em sua casa na serra, em Grottaferrata, a poucos quilometros de Roma. Simpático, vivido, o conde Umberto Ortolani era uma figura “ambígua, misteriosa” (como dizia o “ La Republica ”). Mal falava, só perguntava.
Dele eu sabia que era conde da Santa Sé,”gentiluomo di sua Santitá”, banqueiro do Vaticano, socio-diretor do jornal “Corriere de la Sera ”. Havia conhecido num vernissage no Masp, em São Paulo , em 84, apresentado pelo jornalista e editor José Nêumanne, do “Estado de S. Paulo”.
Ortolani
O que ele queria de mim? Queria o Brasil. Queria que eu convencesse o embaixador Carlos Alberto Leite Barbosa a convencer o Itamaraty a lhe entregar um novo passaporte, pois tinha cidadania brasileira dada pela ditadura militar a pedido dos Mesquita do “Estado de S. Paulo” e os dois que tinha, o italiano e o brasileiro, o governo italiano lhe tomara ao descer em Roma, depois de oito anos asilado no Brasil.
Impossível. Quem tomou o passaporte foi o governo italiano. O Brasil nada tinha com aquilo. Mas ele achava que, insistindo, talvez conseguisse. Queria fugir de novo. Ou não tinha companhia melhor para sua conversa admirável sobre a política italiana e seus magníficos vinhos.
Levou-me a seu escritório na Via Condotti, 9, em cima da Bulgari :
- Desta sala saíram sete primeirios ministros: Andreotti, Craxi, etc.
Um livro
O conde é uma historia exemplar do satânico poder dos banqueiros, mesmo quando, como ele, um banqueiro de Deus, vice-presidente do banco Ambrosiano, do cardeal Marcinkus, até hoje foragido nos Estados Unidos.
Os que criticam, inteiramente sem razão, o presidente Lula e o ministro Tarso Genro, por terem dado asilo político ao italiano Cesare Battisti, deviam ler um livro imperdível: “Poteri Forti” (”Fortes Poderes, o Escândalo do Banco Ambrosiano”), do jornalista italiano Ferruccio Pinotti, abrindo as entranhas do poder de corrupção do sistema financeiro, de braços dados com governos, partidos, empresários, maçonaria, mafia.
Em junho de 1982, foi encontrado estrangulado em Londres, embaixo da “Blackfriars Bridge” (”a ponte dos Irmãos Negros”), o banqueiro italiano Roberto Calvi, presidente do Banco Ambrosiano, que acabava de quebrar, e tinha como diretores o cardeal Marcinkus, o conde Ortolani e o chefe da P-2 italiana (maçonaria), Licio Gelli.
Mãos limpas
Nos dias seguintes, na Itália e na Inglaterra, apareceram assassinados varios outros ligados a Calvi. No meio da confusão estava Ortolani, um dos quatro “Cavaleiros do Apocalipse”. Quando, a partir de 90, a “Operação Mãos Limpas” chegou perto deles, o conde, olhando Roma lá de cima do Gianiccolo, me dizia :
- Isso não vai acabar bem.
Depende o que é acabar bem. O ministério Publico e a Justiça enfrentaram a aliança satânica, que vinha desde 45, no fim da guerra, entre a Democracia Cristã e a máfia italiana. Houve centenas de prisões, suicídios. Nunca antes a máfia tinha sido tão encurralada e atingida. Responderam com bombas detonando carros de procuradores e juizes. Mas os grandes partidos políticos aliados (Democrata Cristão, Socialista, Liberal) explodiram. O Partido Comunista, conivente, se desintegrou. E meu amigo conde, condenado a 19 anos, morreu em 2002, aos 90 anos.
Negri e Battisti
A “Operação Mãos Limpas” não teria havido se um punhado de bravos jovens valentes e alucinados, das Brigadas Vermelhas e dos Proletarios Armados pelo Comunismo (PAC) não tivesse enfrentado o Estado mafioso.
O governo, desmoralizado, usava a máfia para elimina-los. Eles reagiam, houve mortos de lado a lado, e prisões dos lideres intelectuais, como o filósofo De Negri (asilado na França) e o romancista Cesare Battisti (asilado na França). Estava lá, vi, escrevi, acompanhei tudo.
Foram eles, os jovens rebeldes das décadas de 70 a 80, que começaram a salvar a Italia. Se não se levantassem de armas na mão, a aliança Democracia Cristã, Partido Socialista, Liberais e máfia, estaria lá até hoje. Berlusconi é o feto podre que restou, mas logo será expelido.
Salomés
O corrupto Chirac, a pedido de Berlusconi, retirou o asílo politico de Battisti, que o Brasil agora lhe deu. Tarso Genro e Lula estão certos. O problema foi, era, continua político. O fascista Berlusconi (primeiro-ministro)é apoiado pelo desfrutavel velhinho comunista Giorgio Napolitano (presidente) que se escondeu quando o juiz Falcone (assassinado) e o procurador Pietro (hoje no Parlamento) fizeram a “Operação Mãos Limpas”
Não têm autoridade moral nenhuma. Por que não devolveram Caciolla, o batedor de carteira do Banco Central, quando o Brasil pediu?
As Salomés de lá e cá querem entregar a cabeça de Battisti à máfia.
(Sebastião Nery é jornalista.)

A FESTA DA CARTOLAGEM

Um político qualquer propõe gastar RS$ 300 milhões para um estádio de futebol que poderá abrigar no máximo três (3) partidas da copa do mundo. Se for dinheiro dele, nada a opor; o restante Deus proverá; menos o dinheiro público municipal, estadual e, talvez do PAC. Nem De Gaulle nem Giorgio Napolitano podem dizer que o Brasil não é sério, mas nós podemos e devemos; e o povo do crédito de superespreds e fraudes, do consumo de porcarias, do voto em conivência aos populistas corruptos, do degenerado Big Brother, do dízimo para entrada no paraíso desses bandidos de igreja, e da festança para enganar sua própria estupidez; esse somos nós. Pois os picaretas políticos não criaram um Ministério dos Esportes para enganar nossos burros de que ração e espetáculo estarão garantidos.
Pode mudar de roupa, pode mudar de lenço, pode mudar de cuecas, o palhaço é o mesmo: nariz vermelho para nós que temos uma nação a organizar, um país a construir. O “clown” somos nós e o dono do circo não é uma qualquer sociedade do espetáculo, é essa oligarquia ao modelo mais opressivo e afrontoso.
Transformaram a espontaneidade do Carnaval de confraternização social e ele se trasmudou num elogiado espetáculo turístico para alienígenas, com o povo a curtir pela televisão. A sua vez, o futebol não poderia resistir às negociatas oficiosas (do Du Frois ao Teixeira, com as gangues dirigindo clubes e federações), coroadas com os “espirituosos” programas em que rapazes e mocinhas transformam a atividade esportiva em gracejos na televisão, rádio e imprensa, para encobrir os delitos. E, de vez em quando, a súcia de corruptos, negocistas eladrões aliados no poder público inventa um novo golpe na praça, com ou sem crise local e mundial.
Sediar a Copa do Mundo é conveniente para as negociatas e um ônus financeiro a ser pago pela população (que nem sabe como ela própria está ou anda, nem o que lhe custa). Todos os safados se lançaram a esse “belo esporte” de negociar dinheiro público para o circo esportivo ‑ com a pretensão do benefício turístico, a possível euforia dos alienados e a realidade do prejuízo nacional. E ainda se você sair de nariz vermelho num ato de contrição estará arriscado a ser achincalhado por uma turba dos homo loquax‑homo sacer e atropelado pela torcida do Big Brother.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

DEMOCRACIAS X FARSANTES

O Ministro Tarso Genro firmou posição contra os oportunistas dentro e fora do governo brasileiro, na vida pública e na “privada”, na comunicação social e na imprensa a soldo, no Brasil e no exterior, enfatizando que, se Cesare Battisti não foi vítima política do Estado italiano em uma conspiração política da Democracia-Cristã‑PCI‑Partido Socialista para impor aos italianos o “consenso político” dos anos 70 a 80; as Bgritatte Rose e os Proletários Armados pelo Comunismo (PAC, que ele integrou como dirigente) supuseram estar reagindo adequadamente aos “corruptos da democracia cristã em suas especulações criminosas ligadas ao Banco do Vaticano, juntamente com os degenerados do Partido Comunista Italiano de Togliatti a.Enrico Berlinguer e com os socialistas de Sandro Bertini ‑ que haviam organizado o “compromisso histórico” sob interesses grupais, com seus braços no Parlamento e no governo, a fim de liberar o capital “sem marca”, subordinar-lhe as condições de trabalho e disciplinar a vida trabalhista e sindical; além do aberrante perfilhamento nacional à OTAN-CIA-WASHINGTON como “garantia” internacional à reorganização daquela sociedade “pós-fascista. Do eurocomunismo anti-stalinista de Palmiro Togliatti e Enrico Berlinguer ao “compromesso storico cristiano-comunista-socialista” contra a independência política italiana e a favor da maior corrupção histórico-política.
Todavia, “apesar da traição social-nacional do Partido Comunista Italiano acumpliciado à hegemonia “sibarita” Vaticano-democrata-cristão”, nem todos os movimentos sociais profissionais e de idéias sociopolíticas se dispuseram a acatar as diretivas totalitaristas daquele “Estado democrático de direito” versão “compromesso stórico nuovo fascismo”.
Como primeiro-ministro, Aldo Moro passou daí a ser o alvo exemplar da campanha da Brigatte Rosse como dos Proletários Armados do Comunismo, contra “a maffia cospiratrice” no poder da República ‑ por “maffia” entendamos não a mano nera, a camorra, a ormetà ou similares e sim aberrantes métodos com presença ostensiva de capos políticos comandando especuladores corruptos formados e abrigados nesse poder do Estado lapidado pela CIA.
Sequestrado e executado Aldo Moro, mais do que a punição aos grupamentos “políticos terroristas”, o poder de Estado decidiu prender, torturar e exterminar perseguidos políticos, especialmente “os cabeças” para que não fossem reveladas “as confissões de Aldo Moro” e possíveis provas dos negócios secretos e de corrupção no governo. E então entre provas forjadas pela polícia, surgiram “testemunha” e “depoimento” articulados além dos assassinatos que estavam imputados contra Cesare Battisti, sob instâncias especiais de ameaças a suspeitos, com promessas de liberdade e prêmios de delação. Esse “sistema democrático exemplar da Itália“ encomendou e sua Giustizia ubi et orbe (que arrota agora dignidade e sabedorias ao mundo) acatou denúncia (por essa ”delação premiada”) sem prova nem contradição legal. E há quarenta anos esse passado iníquo reaparece na vida pública italiana e é manipulado pela “imprensa livre e democrática da CIA e do mundo”, tendo por alvo os insubmissos políticos e seus remanescentes como Cesare Battisti.
Voltemos ao ponto: devemos manifestar nosso apoio à posição corajosa e lúcida do Ministro Tarso Genro e à firmeza do governo Lula no episódio da negativa de extradição a um preso político em processo-farsa político, regido por uma giustizia a serviço da história da corrupção de Estado na Itália. Necessário e urgente apoio contra a estúpida e agressiva pressão fascista-imperialista sob esse “honorável” pretexto de uma “democracia aberta, sabedoria vitalícia e soberania exemplar” italianas.

A ESQUERDA NÃO É MAIS “AQUELA”?

Agindo de má-fé na discussão da concessão de asilo político ao italiano Cesare Battisti, os “patifes ilustres” da imprensa (da Rede Globo à Bandeirantes e à Record, dos serventes globais a Mino Carta e Joelmir Betting) vão explicitando o que subentendem por “nossos fundamentos de civilização”, “os direitos humanos”, o “Estado democrático e social de direito”, “nossos compromissos com o direito internacional”, etc. -- desta feita, ecoando a destempo a “giurisprudenza politice consensuale” de Giulio Andreotti-Enrico Berlinguer-Aldo Moro-Francesco Cossiga (a “sinistra” democracia cristã-comunista) e como porta-vozes cosmopolitas da página negra dessa entente mafiosa que governou a Itália dos anos 70 a 80 e depois envergonhou com remorsos civis ao senador vitalício Francesco Cossiga e a Giulio Andreotti, tradicional primeiro-ministro do período. Assim, compungidos revivemos a conspiração institucional e os infames processos dos expurgos de insubordinados políticos.
“Má-fé” porque, se “é obrigação de governo proteger a livre produtividade da sociedade e a segurança dos indivíduos” (quando menos em sua privacidade), refundir e mistificar esses balizamentos constitucionais e programáticos com torsão de suas perspectivas é imposição-coerção abusiva. Porque o sistema produtivo deverá ter garantias de governo, embora ele não seja “o governo”; e a razão primeira dessas garantias -- as pessoas em comunidade, os produtores diretos e a sua cidadania rasa -- foram elas desrespeitadas pela aristocracia política e então afrontadas pela “macchia” Aldo Moro-Enrico Berlinguer. E Razão de Estado, ontem e hoje, na Itália como no Brasil; é sustentar e prover a vida nacional e o trabalho que a alimenta, privilegiando os seus agentes sociais. Não a CIA.
Ora, o Estado capitalista italiano do Pós-Guerra -- na reorganização de direitos políticos a instâncias públicas e individuais e aos agrupamentos econômico-políticos como reconstrutores absolutos da vida econômica e “social pós-fascista” -- designou a tutoria democrata-cristã‑comunista para fazer uma depuração ideológico-política peninsular a serviço da OTAN-CIA e de seu controle sociopolítico. Ao farisaísmo da corrupção política e das fraudes econômicas (inclusive com o Banco do Vaticano) da democracia-cristã somou-se o oportunismo e a corrupção econômico-política do Partido Comunista Italiano. Todo aquele governo (incluído o Partido Socialista de Bertini) foi complacente com os negócios de Estado transformados em negócios no Estado por essa “entente cordiale” “però democratica”. Estado de direito democrático sim, porém nele o “Estado social” subsumido por um jurisdicismo totalitarista ao modelo opereta-mussolinesca e autoritarismo legalista conformes com os “interessi personali che si nascondono sotto il manto della politica” e com seus monopólios associados; a que todos deveriam curvar-se. Porém nem todos aceitaram.
Agora, os Piero Fasino, Giorgio Napolitano, Wálter Maiérovitch, Mino Carta e outros ideólogos-democratas de ofício pretendem refazer a história e a política italiana do “grande acordo antinacional” e dos movimentos que resistiram à violência de Estado mafioso.
Para esses surfistas políticos e sábios de nomeação, os “procedimentos democráticos” convencionados não são modelos para ação e conduta e sim embustes como substância política da vida democrática. Não por outra razão lhes devemos pespegar a qualificação “patifes Ilustres”, com que o filósofo David Hume acusou os poderosos (e seus êmulos) de fazer das formas e aparências constitucionais, legais, contratuais o pretexto para agir conforme seus baixos interesses de classe e poder; ou de discernir e esclarecer de acordo com sua estupidez preconceituosa senão sua cúpida pecúnia. Pelas idéias idiossantas dessa mercenária comunicação social, o Estado tem e manterá o poder de estabular as classes sociais. (Muito antes do PPS, o PCI já negociava cargos, funções e dividendos em negócios de poder; bem como habitualmente já o faziam o Vaticano e a democracia cristã.)
As revoltas políticas e anti-autoritárias (1954, 1968 a 1974) na Hungria, França, Alemanha, Itália, Tchecoslováquia, Bélgica, Hungria, Polônia, Estados Unidos, México, Brasil e outras demonstraram os limites desse “poder democrático autolegitimado” e “politicamente consolidado” como democracia “atenta e aberta”; ou da sua contrafação na Europa do Leste, no Brasil, México, Argentina, Chile e alhures.
Sobre os conceitos: Um dia Norberto Bobbio saiu a campo e logrou destrinçar o tal “imbroglio” de jornalistas, políticos, cientistas políticos, sociólogos e intelectuais de juízo, a respeito de “posições políticas de esquerda e de direita” nos fatos e nos votos, no discurso e nas instituições. Historiando o conceito e sua aplicação, NB simplesmente apontou “quem sentava à esquerda em legítima representação do povo”; e “quem, tendo excesso de estima, apreços à nobre estirpe, privatizações com auto-agregação de valores, domínio político com ócios e negócios conspícuos e secretos, sentava à direita.” Nós, pobres opiniáticos, de pé...
Hoje há ainda políticos comprometidos com os produtores-diretos, com os profissionais técnicos e cientistas, com os “sem” (terra, teto, emprego, organização) e com a sua própria nacionalidade, que continuam postados à esquerda, lutando. Embora certas figuras sinistras de “pós-modernidade” e de sua “pós-responsabilidade social” se exponham à direita como “patifes ilustres” em nossa “sociedade política”.
Podemos ficar assim: os democratas, o MST e todos os sem-direitos agradecem esses arreganhos ao direito de sobrevida, à luta cruenta e ao voto-referendo na construção do País.