segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

A CORRENTE LÚCIDA

Se você já sabe, passe adiante. É parte de uma palestra que fiz a universitários:
A (custosa) compreensão de que a dominação social ideológico-política ‑ que é afirmada e reafirmada pelas palavras e informações que vão atingindo toda a sociedade ‑ só se vai esclarecendo melhor agora, quando o “pensamento próprio”, a “informação com autoria comum” e a “opinião que sai do anonimato” (por meio de um “aparelho sem patrão” que é o computador), é, para cada, um ponto de vista pessoal, a palavra liberta, a expressão democrática. Leia outra vez: deu para entender o que foi escrito? É correto? Bem... cada expressão acima será verdadeiramente exata se considerarmos duas coisas: 1) o que se falava ou escrevia antes do acesso à nova tecnologia do computador era abafado pelos meios de “comunicação social” (imprensa, rádio e televisão que impõem a sua seleção de todas as notícias e informações para toda a sociedade de leitores e ouvintes, até mesmo como “portavozes” políticos das classes dominantes e dos governos); 2) a descoberta a que “só agora todos chegam” de que a notícia e a informação são produzidas e distribuídas por quem tem um meio à disposição (um transmissor de idéias e pensamentos) e esse meio pode ser apropriado por alguém, contra os interesses de todos os que vivem em sua condição subalterna.
É isso que vêm estudando e discutindo as pessoas e os grupos de movimentos empenhados em “meios alternativos de comunicação social”: livrar as pessoas da pior das ditaduras que é do domínio privado, por algumas pessoas, famílias, grupos, empresas e sistemas das notícias e informações que dizem escolher no “interesse da sociedade aberta”, “democrática” e “politicamente livre”. Por favor, novamente: você entendeu o que se passa? Eles roubam os meios sociais.
Surge, então, novo problema: muitas dessas pessoas que passaram a ter a oportunidade de se comunicar por computador começaram a fazer o exercício da escrita e da fala públicas, e se estão deslumbrando como “escritores, oradores e comunicadores de idéias para os outros”; e em vez de uma comunicação entre iguais, de uma interação social, de um proveito comum, passaram a fazer a mesma coisa da Imprensa Dominadora: a ditadura de idéias, informações e contorções, enchendo o saco dos demais. E então, uns podem fazer isso e outros não; se todos vão tendo os meios? Não! Todos podem comunicar suas necessidades, desejos, aspirações, sonhos e projetos; mas também aprender coisas essenciais antes de querer ensinar experiências.É aí que o bom-senso nos adverte: procure conhecer o que você não sabe. Procure informar apenas o que você sabe mesmo, de verdade técnica e científica. Não ceda à tentação de opinar o que não estudou corretamente; não queira disputar pessoal e intelectualmente com quem expõe fatos, dados, suas origens e as consequências deles. Em resumo, seja modesto e prudente e não imite os idiotas que respondem a uma notícia, a uma informação, a um estudo, e até a um ensaio com o descaso de quem se ofende porque outros sabem mais; e aí divulgam “coisas similares”, paralelas e de importância menor para se gratificarem como autores, escritores, oradores; e acabam desviando a eficácia da comunicação. Não admitem descansar seu egoísmo, em seu desespero de disputar o pódium a qualquer preço. Não ouvem, querem falar; não entendem, querem ensinar; não são os mais preparados porque não estudam pacientemente, mas querem aparecer. Usemos a internet e outros meios de comunicação; primeiro para colher sementes, depois para as ir plantando. Obrigado pela paciência de ouvir, isto é, ler.

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