sábado, 7 de março de 2009

A “CANALHA EM CRISE”

O Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes assumira a expressão “A Canalha em Crise” do seu Teatro Popular, para caracterizar o açodamento corrupto da burguesia em busca de coroar-se partícipe (príncipe) da plutocracia internacional. Estávamos nas conseqüências políticas do pós-guerra 1945/1964 e o conflito entre a canalha capitalista aspirante ao fastígio cosmopolita e as classes trabalhadoras que se organizavam para ocupar a cena política nacional acirrava sua disputa de hegemonia política. Com o Estado, ainda democrático-nacional pela herança do varguismo-liberal-trabalhista, instado pela política conservadora e pressionado pelo estamento burocrático-militar a desnudar sua substância keynesiana de ditadura-domínio dos bens públicos.
Em outras palavras, o Estado com “equilíbrio de classes” chegava ao fim de suas tarefas democrático-populares, já que as classes trabalhadoras e sua intelligentsia não se mostravam capazes, (não exageremos: com as disputas pela hegemonia política nacional), sequer pela continuidade varguista-janguista de avanços democráticos por via das “reformas nacionais de base”. Nem o populismo de Jânio Quadros, com aparências liberal-populares, na esteira do que fora a União Democrática Nacional em algumas inflexões democrático-trabalhistas, foi, então, admitido pela “Canalha em crise” (O “fiel conservador-liberal”, o Partido Social Democrático, já não estava aceitando associar-se à força trabalhista!)
A afirmação do capitalismo monopolista de Estado em 1964 superou o que havia de “crise de crescimento político-econômico” e aquela canalha já sem vacilações e tropeços assumiu sem rebuços o seu papel histórico: Já advertira Karl Marx que o modo produtivo capitalista não conhece limites e seu sistema sociopolítico se manifesta como “Ditadura do capital” ou, embuçadamente, “Ditadura democrática de direito do capitalismo” (competindo a sua intelligentsia e a seus “patifes ilustres” no poder das instituições públicas explicarem como uma “ditadura pode ser despótica ou democrática”)
Abreviando essa história e seu ensaio político: passamos da ditadura burocrático-militar e sua “abertura lenta, gradual e mefítica” e chegamos ao “udenista civilizado” José Sarney herdeiro do “pessedismo progressista” de Tancredo Neves, “modernizado” pelos Fernandos Collor e Henrique de Mello y Cardoso. A que sucederiam “os restauradores dos direitos democrático-populares”: um conventículo do “Partido dos Trabalhadores” como partido-guia dos remanescentes das lutas sociais pré-1964; só que sob condições de um compromisso histórico-nacional imposto pela hegemonia econômico-política caldeada nas “causas do golpe de Estado de 1964”. Esse é o nosso neoliberalismo “mais à esquerda”.
Quando falamos de financiamento público a bancos e empresas (até mesmo o Estado “assumindo ou redistribuindo cotas”), quando “praticamos os sedutores riscos e atividades público/privadas”, entregamos bens públicos para administração privada. E de repente o berro institucional privado/público: Lili Marinho, Otávio Frias fo., João Saiad ou Gilmar Mendes nos advertem de que “reforma agrária” ou outras pra valer são causas vencidas. A canalha está “vivendo na crise” mas não em crise; o mundo e nós é que perdemos a guia.

Nenhum comentário: