quarta-feira, 23 de julho de 2008

DIREITO E MORTE COMO ESTATÍSTICAS

1) Quando um imbecil fala em despreparo da polícia porque ela ataca, persegue, seqüestra ou mata cidadãos que deveria proteger e defender, ele está escondendo alguma coisa. Não creia que apenas esconde que é um imbecil; ele sabe que o eufemismo despreparo não mexe em vespeiro, não atrita suas relações de comissário político com a classe social de poder. Imaginou se ele esclarecesse que são as políticas de segurança do poder (sempre políticas sociais!) que levam à insegurança da população (mas afetando especialmente quem não é bem: não mora bem, não veste bem, não se relaciona bem, mas está bem ali no foco do perigo) e levam ao confronto “da lei e da ordem” com os “fora da segurança legal”, do “agente institucional da sociedade política”, com os “marginais à hierarquia social reconhecida”?
A violência policial seria assim tão-somente uma perversão do que cientistas sociais delirantes exigem como “império da lei” (i.e., do mercado de capitais?); como um remate da própria democracia política liberal em consagração do Estado econômico monopolista gestado na ditadura de 1964-88. Os filhotes de Golbery do Couto e Silva e de Roberto Campos querem finalizar sua obra com tal Estado democrático de direito, tolerância zero.
Todos seriam “iguais perante a lei”: Daniel Dantas, Eduardo Azeredo, Celso Pitta, Paulo Maluf, Sérgio Cabral, Gilmar Mendes, eu e as pessoas que foram mortas ou sendo presas e moram em condições suspeitas. Mesmo que as rendas é que conformem a cidadania.
2) De outra parte, bastou um mês da “lei seca no tráfego” e os sociólogos em trânsito concluíram que os acidentes e seu atendimento médico baixaram em “razão da tolerância zero” ante as imprudências no consumo alcoólico e abusos nos efeitos etílicos. Mas não disseram que a causa eficiente pode ser a onipresença de “blitz” policial nas ruas e não a abstenção de bebidas. Adiante, alguém poderá fazer confrontos com base científica, ou simplesmente provará que a discriminação social nessa confraria de motoristas inimputáveis, e o fato de existir mais burocrata sentado na Polícia Rodoviária do que de pé nas estradas são os fatores principais do crime e do caos nas estradas brasileiras. A que se acrescente a canalhice jurídico-política do pedágio das vias públicas por e para empresas privadas.
Quando a demagogia política e o subterfúgio do poder de classe social insistem que a “educação” deve ser vista como causa dos males civis e nacionais (sendo um efeito), não vejo indignação de partidos populares e lideranças sociais para contestar essa impostura. Entretanto, sendo evidente o fato de que as classes sociais têm poder, hierarquia, educação, cidadania e mando ou não têm poder, são subordinadas, ignorantes e iletradas, tuteladas e mandadas. Por que a violência social, os crimes dos agentes da lei, o tráfego de caminhão, ônibus, automóvel ou motocicleta nas rodovias iria mudar isso?

Nenhum comentário: