domingo, 20 de julho de 2008

DISPARATES & DISLATES

A direita me vem acusando de ser complacente com o poder, conivente com o carreirismo político e tolerante com o besteirol ideológico (e eles são sinceros na medida de suas convicções); já de esquerda me acusam de ser acrimonioso com chefes e subalternos do PT e no governo federal, de até ofensivo com as cliques e claques que se formam à sombra nacionalista, socialista, comunitarista, e ser desequilibrado nas invectivas políticas (e eles podem ser sinceros). Assim, devo esclarecer a razão que têm os destros ao colocar-me do outro lado da cerca, e como os sinistros também poderiam ter alguma razão, estou tentando enfrentar a aporia respondendo ao paradoxo.
O que havia de criminoso para fazer no poder público (em qualquer dos poderes) os direitistas empedernidos e seus “patifes ilustres” já fizeram, com manigâncias e conjuras, aliciando comportamentos, conformando e fiscalizando atitudes ditas “civis”. Já à esquerda somos noviços e ultimamente desorientados; e ademais de mãos-pendentes vamos vendemos a alma ao Diabo e as idéias ao Deus-Dará, se nos colocamos na dependência daqueles que substituem os movimentos sociais em sua luta por uma sectária demagogia.
A sobrevivência nos estimula e também constringe; daí as oportunidades de vida e o dinheiro nos condicionem com incidências, muitas vezes sob total descontrole. Podemos entretanto assumir a busca de ajustar a condição e posição de classe a necessidades e valores coletivos ‑ a luta política por justiça e direitos e sua expressão em idéias e palavras ‑ ou seu reverso, no oportunismo político-ideológico e busca de vantagens, acabará criando uma retórica “fundamentalista”.
Assim é que o palavreado e o discurso podem sobrenadar a esperteza, exatamente para esconder as intenções reais e a ânsia de destaque e gratificação social: corporificam-se nos fiscais políticos e ideológicos de idéias e condutas. E como a experiência política das lutas sociais nos mostra, uns tem seu modo claro de conduta e de expressar suas idéias; já o lumpesinato intelectual quer oportunisticamente ser fiscal de idéias e exator de condutas.
Desde a Santa Ceia, quando faltou peixe na grelha e vinho nas libações e, aproveitando a boa-fé dos militantes petistas, o estamento condominiado no poder houve de negociar com Henrique Meirelles, Roberto Rodrigues e Fernando Fontana a estabilidade do sistema produtivo e suas exportações: a nação confirmou-se refém do neoliberalismo. Digo isso com a certeza de que o idiotismo faz uma cortina sobre esses fatos; e eu, ainda membro do PT, não tenho visão e compreensão zédirceista, berzoinista ou hedonista da política e sua expressão das lutas sociais no Brasil do século XXI.

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