quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

"CABEÇA FEITA" PELO PODER

Ao seu lado, disputando com você um torneio de inteligência e cultura (que você não sabe bem o que e por que) está um dejeto palavroso a passar suas “informações de cocheira” e a expender considerações sobre qualquer assunto em pauta. Observe-o atentamente: não é um figurante nerd alheado de compromissos sociais e responsabilidades civis, é o profissional-cinzeiro que, mesmo sem fumar, acorre a inalar as baforadas do chefe e oferecer boceta para as baganas; tudo ao preço da corte: ser convidado aos desacatos-desabafos da chefia e agir como escoteiro sênior no clube de serviço; tanto faz, pois ele é um dublê de cena no poder ou na rua. Papel carbono de um lado, papa-moscas de outro.
Essa coisa pegajosa luta angustiosamente por ser reconhecido importante: ‑ à boca-larga para que o recomendem os superiores, à boca-murcha com a acidez crítica dos indomados quando o assunto lhe faculta aparentar “independência”; e com a bocarra-estrídula na presunção esponjosa ‑.Na verdade ele não tem outro compromisso que não seja puxar saco fingindo espírito livre e crítico. Grosso ou fino, está bem ao lado.
Entrementes, os críticos da política e os juízes da ética sempre atribuíram maiores responsabilidades sociopolíticas às pessoas de melhor formação educacional e cultural, comparados aos incultos e desavisados da ciência; porquanto a ignorância e a ingenuidade são consideradas atenuantes dos erros em face da sociedade e da lei; porém não essa obsequiosa e deprimente má-fé do sabujismo-carreirismo.
O encosto do poder é a gangue dos consócios “políticos”, mas o seu principal suporte são os subservientes. Não a massa, os pobres diabos da “servidão voluntária” sujeita à subalternidade para lograr a sobrevivência, e sim o sorriso atento e obsequioso do oportunista-carreirista ‑ cuja opinião é “politicamente ajustada, mais que correta”; ora na boca-surdina das eventuais ressalvas para exibir “independência”; depois quebrado-da-boca a demonstrar medo de censura superior e a seguir com a boca-repique a expor como xérox a sua formatação estereotipada e disponibilidade “delivery”. Enfim, a sociabilidade indistinta nos cobra o preço da interlocução com estes Merds ‑ que não têm a ingênua aplicação dos Nerds nem a sua dependência tecnológico-expressiva com alienação civil e falta de caráter interativo.
Entrementes, o pragmatismo adicto à sobrevivência, o oportunismo colado ao individualismo e a racionalização dos ajustes pessoais ao poder econômico-político vêm desfigurando a luta de classes e exaltando a disputa de poder social e político. Essas antinomias se colocam como “base ético-política” dos Merds a contratar suas posições e atitudes no dispensário das relações sociais.
De assim, a história da inteligência aponta convergências entre o modelo do ativista social crítico e os profissionais técnicos e cientistas, numa curva ascendente de responsabilidade política que vai desde a base social a seus modelos; e sempre proporcional aos níveis de entendimento e consciência de classe no seu modo de existência. Os nerds e os merds “correm por fora”, os primeiros como “esquecidos da política” comum; os outros como praticantes da servidão ao poder mas com suposta “inteligência feita” (pelo mando).
Fuja de quem não tem compromissos sociais; abomine os carreiristas como despreze os dogmáticos de quaisquer doutrinas. Pergunte sempre: qual é sua posição? E qual o compromisso que tem com o problema de que fala?

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