quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

MORREM AOS MILHÕES

Os sistemas econômicos com seus regimes de classe e força impõem condições dramáticas de vida e trabalho para “os dependentes” (“os de baixo”) -- isso quase todos sabem. Da fome endêmica ao abandono estrutural dos “sem propriedade e sem meios próprios de produção e subsistência” há um itinerário de tragédias pessoais e sociais que garroteiam, mas nem só, os países africanos, asiáticos, árabes, americanos; mas também os “incluídos e assistidos” pelo “capitalismo excelente” ou pelo capitalismo de Estado “emergente”. Dezenas, centenas de milhares; até milhões de “almas” em todo o mundo, aguardam exangues a “inclusão civilizacional” na “grande sociedade democrático-burguesa” ou em alguma sociedade revolucionária “socialista” com capitalismo de Estado; enquanto os fariseus se esgoelam pelos “valores de troca do capitalismo democrático” e se escandalizam com as violências insurrecionais “de uso”, que ao máximo abreviam as existências estatísticas.
Do “darwinismo social” russo, indo-banglaro-paquistanês e chinês antes da sua independência política conhecemo-lhes as autorias aristocrático-feudais em que a morte de milhões se inscrevia em rotinas estatísticas. Após pautaram-se as sucessivas hecatombes nas lutas anticoloniais revolucionárias e processos políticos de reconstrução nacional (com revoluções político-culturais soviética e chinesa a par de seus “expurgos intensos”); e na sanguinária intervenção militar multi-imperialista na União Soviética de 1918-23 seguida das “depurações políticas” stalinistas de 1926-40, elevaram-se os passivos da guerra revolucionária soviética a mais de dois milhões de inocentes pessoas.
Depois da Segunda Guerra o genocídio patrocinado pelos Estados Unidos na Indonésia com o regime Suharto exterminou cerca de um milhão de indonésios; e, na sua esteira, rivalizando com os tirânicos Pol Pot e Idi Amin, John Kennedy-Lyndon Johnson-Richard Nixon praticaram o holocausto de vietnamitas, cambodjanos e laocianos. E, mais recentemente, surgem denúncias de que Gorbashov-Yeltsin-Puttin fizeram uma ocidentalização democrática ortodoxa, extirpando milhão de almas pelo caminho.
Capeando conceitos aleatoriamente difusos: o “sistema democrático” surgiu em oposição ao plutocratismo com suas instituições mercenárias; ou ao aristocratismo (ou elitismo político), dos que têm a fortuna do bolso e do espírito. Desde então, referendos meramente formais elevam argentários e espertos oportunistas ao poder, sob as “regras universais” de consensos da “força social” ou consultas censitárias sobre “nossa servidão voluntária” com garantia de emprego mais justiça prêt-à-porter (desses três “poderes equilibristas”).
“Que em uma democracia sejam os muitos a decidir não transforma esses muitos em uma massa que possa ser considerada globalmente, porque a massa enquanto tal não decide nada” (Norberto Bobbio, “Democracia:Fundamentos”). E assim os esforços entre um “totalitarismo eleitoralista” e um “despotismo censitário” se esgarçam na boca dos idiomatas que aproveitam “os seus valores democráticos”.

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