segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

TERROR E TERRORISMO NO LEVANTE

(Já com mais de um lustro de existência, retomo, corrigida, esta resposta que dei a um artigo do engenheiro-empresário Moisés Storch a suas explicações sionistas do conflito judeu-palestino. Por acreditar que “sábios” e burros terão proveito, eis:)
Sob o título A Satanização dos Estados Unidos e de Israel e a Manipulação do Sofrimento Palestino, o sionista Moisés (Moiche) Storch está difundindo suas explicações sobre a situação no Oriente Médio a partir do “fato político da existência do Estado de Israel” e da política imperialista e neocolonialista de apoio e sustentação desse Estado capitaneada pelos Estados Unidos da América.
Começa o texto dizendo que “A solução do conflito está em grande parte numa conscientização do povo palestino que tem sido vítima, mais do que do sionismo, de uma manipulação de seu sofrimento por regimes autoritários e retrógrados árabes”. “Grande parte” da solução ou do interesse de expansão sionista?
O destaque acima começa por usar imprecisões como “em grande parte”, sem dizer o tamanho da parte, e “tem sido vítima, mais do que do sionismo, de uma manipulação de seu sofrimento por regimes autoritários e retrógrados árabes”, o que é em pequena parte verdade, mesmo que a ação sionista colonialista no Oriente Médio seja a causa e tenha agravado a posição e situação do povo herdeiro nacional da terra, os palestinos. Ele porém não consegue distinguir esses fatos.
Todavia, mesmo ao reconhecer a causa sionista na aflição e revolta não só palestina, como também na dos povos vizinhos, árabes e muçulmanos, minimiza-a, atribuindo suas dimensões à propaganda dos “regimes autoritários e retrógrados árabes”. E então sub-repticiamente insere nas “razões” de sua causa o confronto entre o Estado “libertário e progressista” de Israel e os Estados “retrógrados” árabes e muçulmanos da região”. Fecha-se assim uma idéia liminar de que existe intérmino conflito civilização X barbárie; cultura judaico-cristã X fundamentalismos religiosos e primitivos à contemporaneidade; e uma dinâmica capitalista-“neoliberal” X sistemas estatais extrativistas-mercantis de regimes autocráticos e assentados na produção primária.
[Nada mais falso do que meias-verdades, particularmente se as alegadas verdades não são suficientemente caracterizadas por suas circunstâncias, seu entorno e em sua dinâmica política. As razões norte-americanas para apoiar seu protetorado colonialista-sionista são evidentes, pois se trata do controle estratégico do Oriente Médio. Porém as razões soviéticas de Josef Stalin e Andrei Gromyko, além do fato de se desembaraçarem do incômodo bund “radical” judaico, foram estupidamente social-imperialistas: “para a superação dos colonialismos britânico e francês na região” e a “imposição de uma vanguarda modernizadora (progressista?) corroendo o sistema feudal e despótico de países árabes vizinhos”.]
Moiche Storch, no entanto, nada diz de substancial sobre os valores efetivos das diversas culturas além de cooperativas (kibutzin) capitalistas, nem a respeito da substância-base do que denominamos “civilização”. Talvez nem saiba do que está falando, pois que usa um clichê liberal que engloba na organização e na administração econômica o controle dos bens de uso nos de consumo, e desde as transformações científico-tecnológicas às operações da bolsa de valores. Naturalmente, sem esquecer capitais e seus custos especulativos, ter e haver, novas colônias e colonialismo e a posse e administração de forças militares com bilhões de dólares americanos para “a grande aventura judaizante”.
Entrementes, pela dialética de Moiche Storch, meio caminho está andado na sua peregrinação em busca de aprovação a sua versão oportunista e de persuasão dos ignorantes e ingênuos. Basta-lhe mistificar os fatos e deturpar a história. Ele sabe que sua explanação se dirige a estudantes, profissionais liberais, “formadores de opinião” de algumas latitudes e, especialmente, a intelectuais disponíveis às invectivas políticas adornadas de fraseologia “pós-científica”.
Adiante, ainda, capeia uma intervenção discursiva de alguém de seu grupo étnico-político ao referir que “ele rebateu o preconceito anti-sionista, relatando o fato de a criação do Estado de Israel ter sido essencialmente obra de uma maioria de sionistas progressistas imbuídos de ideais humanitários e socialistas, em que citou que o primeiro voto na ONU pela partilha da Palestina entre árabes e judeus, em 1947, foi proferido por Andrei Gromyko, representando a então URSS, o qual, nas palavras do colega, proferiu na ocasião uma das mais perfeitas definições e defesas do ideal sionista.” A URSS de Stalin e Molotov estava, então, mais concentrada nos seus novos protetorados na Europa Oriental do Pós-Guerra, trocando a estabilidade do seu espólio político por “um consenso de criação do Estado judeu” a expensas dos palestinos expulsos da tradição e do próprio território.
A referência a “sionistas progressistas imbuídos de ideais humanitários e socialistas” (tipo Ben Gurion e Golda Meir) não quer dizer absolutamente nada à inteligência dos fatos. Nem nega que esses “ideais humanitários” se limitavam a apelar ao mundo pelos judeus pobres e perseguidos; para, logo, tomar o território palestino, expulsando os habitantes árabes. E que o voto de Stalin e Gromyko na ONU era, como o dos Estados Unidos e da Europa, pretexto de uma “reparação ao sofrimento dos judeus sob o regime nazista” e, ao mesmo tempo, a criação de um Estado “mais progressista e confiável” (a quem?) no Oriente Médio.
Promovia-se uma alardeada “descolonização da Palestina”, sem autonomia dos árabes, dando assim, na realidade, continuidade à política britânica de usurpação e controle da Palestina, agora o colonialismo administrado pelos judeus.
Cinicamente, em seguida, Moiche Stroch pede uma meditação para comprovar-se que “o povo palestino mais se ajusta ao papel de ponta-de-lança do imperialismo e do colonialismo” no Levante. E diz que, “analisando a história do conflito do Oriente Médio fica claro que a população árabe da Palestina, no decorrer de mais de meio século de sua sofrida história, tem sido usada como bucha de canhão para os interesses dos regimes mais autoritários e reacionários árabes, em que uma ideologia pan-arabista ‘tem manipulado seus sistemas de [des] informação e [des] educação' contra a entidade sionista”, etc.
O intelectual sionista, fariseu de uma razão sem causa e de um progresso sem justiça, não se reporta às origens reais do conflito. Golda Meir disse em 24 de agosto de 1921: “Não é aos árabes” [multicentenariamente ocupantes nacionais da região] “que os ingleses escolheram para colonizar a Palestina, senão a nós” [imigrantes orientados pela Agência Judaica a invadir a Palestina] (Mary Syrkin: Golda Meir, Paris, Gallimard, 1966, p. 63). O “Memorandum Churchill”, Livro Branco, de 3 de junho de 1922, declarou: “... se chegou a dizer que a Palestina inteira deve converter-se em alguma coisa tão judaica como a Inglaterra é inglesa. O governo de Sua Majestade considera que tal expectativa não tem fundamentos... Os termos da Declaração [de Lord Balfour] não indicam que a Palestina inteira deva ser convertida em um lar nacional judeu, senão que haveria que fundar um tal “Lar na Palestina”. Não contemplou jamais a possibilidade “do desaparecimento ou da subordinação da população árabe, de sua língua e de suas tradições na Palestina” (Maxime Rodinson: “Israel fato colonial?” Les Temps Modernes).
Nenhuma referência faz Storch ao movimento sionista e sua política de dirigir a imigração maciça de judeus para a Palestina; não diz que, quando começaram a surgir resistências -- até da parte de governos aliados como ingleses e franceses -- ao grande deslocamento de “exilados judeus” para o Levante, foi formada uma corrente clandestina que a partir da década de 30 conduzia anualmente dezenas de milhares deles para “povoar” aquela área. Até atingirem -- às vésperas da aprovação da ONU à idéia de partilha -- uma população de 1.600.000 judeus.
Em 14 de maio de 1948 os judeus proclamaram o “Estado de Israel” e manifestaram sua decisão de reprimir toda tentativa da maioria árabe de se opor à sua criação (como fora sonhado e ainda está sendo plantado). E os atos de agressão contra os habitantes herdeiros da terra não diminuíram, mantendo-se a exibição e a prática de força com a determinação de empurrar os árabes, de afastá-los das “áreas requeridas pela tradição judaica”, obrigando-os a se refugiar nos Estados limítrofes. O Resbollah e o Hamas são a resistência à expansão nazi-sionista.
Moiche não faz nenhuma menção às ações clandestinas, ao movimento em dinheiro e armas para as razias e pogroms da Irgun, Hagannah e Stern visando ao desenvolvimento estratégico da conquista sionista mediante ataques contra a população árabe desarmada; finalizada com a sublevação contra os britânicos -- que pretendiam manter o estatuto de um protetorado sobre duas nacionalidades. Criaram uma “oportunidade histórica” para que a diplomacia sionista lograsse apoio junto aos governos europeus, americano e russo, para confirmar sua conquista de parte substancial da Palestina.
Nessa circunstância da então guerra insurreicional dessa minoria armada principalmente pelos Estados Unidos, os palestinos solicitaram apoio aos Estados árabes para manter a ordem na Palestina, sua vida e seus bens. A turbulência política e as ações militares sionistas ameaçavam efetivamente os países vizinhos, o que os levou a uma reação armada não para “esmagar uma minoria pacífica e indefesa”, mas para proteger os palestinos e conter o agressivo expansionismo judaico. Entretanto, sua ambigüidade e tibieza frente aos governos americano, inglês, francês e, também, soviético tornaram frágil e descoordenada sua reação militar e levaram o caos às frentes de combate.
O brasileiro sionista e ativista intelectual Moisés Storch, membro da organização “Shalom-Salam-Paz” (paz-paz-paz, trilíngue), distribui seus ensinamentos ao mundo sobre a situação palestina, tendo por base o Estado vitorioso de Israel e sua política. E à base de uma realpolitik agressiva mostra “a verdade histórica e política” sobre o que é chamado “Estado enclave de Israel”.
Ele apresenta seus títulos de consultor financeiro, administrador de empresas (FGV) e engenheiro formado pela USP, “militante pacifista” convicto. E com esses créditos quer fazer passar sua ideologia e a versão política sionista para os pobres entes desprovidos de razão que somos nós. Toda essa prosopopéia é adornada de mistificação como uma “compota racional”, “democrática” e “pacifista” e, acima de tudo, um discurso “progressista” que empalma a “causa da civilização”, contra “o atraso”, a “barbárie” e o “caos”. Para isso os judeus sionistas continuam posando de “vítimas da insensatez” e do “terrorismo árabo-islâmico do Hamas”.
Javé disse “Faça-se a luz” e Moiche a fez a sete velas. E os burros, tontos zurram pela "razão histórica’.

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