segunda-feira, 4 de agosto de 2008

ACHEGAS AO DEBATE POLÍTICO

Emergem no debate político conceitos de “valores públicos” que procuram conciliar e harmonizar a sociedade hierarquizada, oprimida e injusta. A catadupa de lugares-comuns usada pela intelligentsia vira instrumento de desvio de problemas reais e faz sua mistificação política. Segurança pública, educação e direitos sociais são as manipulações mais freqüentes.
A luta de classes e o debate ideológico que lhe é inerente põem a nu os interesses das classes em conflito e em disputa de poder político. Porém, enquanto quem alcançou vantagens e privilégios procura dissimular seu “usucapião do poder”, dos usos de bens e abusos de direitos sociais, recorrendo a um fraseado acentuadamente ideológico, o subalterno espoliado vem sendo iludido de sua situação econômico-social e posição político-jurídica, tanto mediante coerção da hierarquia socioprodutiva como da linguagem de poder expressa no debate público.
Não é demais esclarecer que o maior problema político em qualquer sociedade é o da segurança social ‑ que decorre da segurança comunitária de existência, com suas reciprocidades na conquista de provisões, proteções e assistências mútuas e que vem a formar a organização produtiva e distributiva e cimentar as estruturas e instituições jurídico-políticas dos direits em lei (como uma práxis para a Justiça). Mas o que vige entre nós é a insegurança social, e um dos seus aspectos é o privilégio jurídico de classe nos códigos de processos e nas próprias leis e sua hermenêutica; o outro, sua contraface, são as ações impositivas contra direitos sociais e ademais com mandamento policial. O debate oportunista procura transferir a questão segurança social para os procedimentos policiais.
De que educação carecemos? Antes de mais nada da educação política ou civilidade que emerge da confiança mútua em sociedade; porém ela resulta de uma consciência da igualdade real de direitos (políticos, econômicos, sociais) nas práticas produtiva e social e nas relações de todo dia. O termo latino educatio se refere à alimentação (nutrição), criação, em família e grupo social, e à cultura como práxis e vivência; antes de ser o educatus (o paciente da educatio). E, enfim, educo, que se refere à ação para aqueles fins.
A informação-instrução-orientação-educação formalizada é a institucionalização do processo orientacional-instrutivo para o paciente se transformar em agente social, no seu interesse e no de toda a sociedade. Entretanto a educação formal, a informação de saberes e da prática de fazeres, é perspectiva e orientação que necessita de igualdade de acesso e segurança sociais entre classes distintas ‑ aquelas que já têm seu lugar marcado no sistema econômico-social vigente, para-vivência na administração e controle das relações de classe; e os alienados subalternos iludidos a que “tem bastado” sumária informação cultural e científica.
Somente uma educação específica e concentrada poderá “compensar” essas diferenças de classe na educação formal. Então, paremos com essa patranha de dizer que a educação (formal) é o nosso déficit e falta como “civilização” tropical. Quanto aos direitos sociais, eles constituem basicamente o reverso ideológico desses tais “grandes problemas” sociais e nacionais.

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