quarta-feira, 20 de agosto de 2008

DO FASTÍGIO AO BÁRATRO

Quando o brilhante dramaturgo Nelson Rodrigues e cretino lhogolhó da crônica esportiva e (até) política (o qual se exaltava a tantos fãs como idiotas da anedota e do frasismo) falava na “pátria de chuteiras” a sua figuração procurava atingir o espírito nacionalista do néscio e a paixão “heróica” do anônimo, vítimas na sociedade capitalista do espetáculo.
O que se chamou de “escola brasileira de futebol” era aos começos principalmente o cultivo da ação individual de “mágicos da bola”, com seu estilismo e efeitismo. Essa escola acabou vingando graças a maior organização funcional, em que as estruturas também se consolidavam aos trancos. Todavia, os muitos sucessos, em condições que no geral favoreceram nossas seleções, não resistiram à globalização intensiva, e ao empresariado “criminoso” que tomou a ponta do sistema de intercâmbio e comércio de clubes, a partir das entidades de seu suporte (as máfias de associações, federações e confederações). Caímos na real: a escola circense brasileira pode ensinar só a foca e o cachorro a brincar com bola, mas o seu circo virou mambembe, com a lona furada e a mulher barbuda amasiada com o faquista na zona.
Exemplo: O Clube Atlético Paranaense aglutinou mais de uma centena de atletas (120?), para disputar jogos com seu time ‑ causa de sua existência ‑ mas principalmente para negociar jogadores (E seu mercado está no exterior). Porque a bolsa de jogadores, é a principalidade negocial como alma da atividade atlética no sistema capitalista nacional e mundial; bem como da futebolística; e, entretanto, no mercado polarizado o centro não é aqui; nós somos periferia. Isso é que faz o tal “modelo de gestão”.
Assim, não se estranhe que o idiota que vive sucessos e derrotas de seu time seja apenas uma peça num grande tabuleiro: Se não existir desempenho artístico não haverá espetáculo; e para isso é preciso uma arena de jogos ampliada num sistema de difusão televisiva de disputas e glórias, onde os heróis são o ponto alto de atração das massas. Ali estará o indivíduo atlético, forte, indômito e vitorioso, debaixo de cuja imagem todos vivemos.
É da gênese do capitalismo destruir para produzir, crescer e acumular riquezas. Dito de outro modo, colher, ceifar ou apreender para transformar em bens. E nosso capitalismo, convenhamos, tem o Dantas, o Lalau, o Ricardo Teixeira, o Eurico Miranda, o Gionédis e o Petraglia. E uma loteria esportiva pra sustentar malandro.

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