sábado, 6 de setembro de 2008

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Florilégio
Todas as palavras pertencem um vocabulário.Negaceiam, me fogem, refulgeme exsurgem, introvertas.
Não me aceitam, fingem.De tal fingimento, bolem:comigo se deitam, comigose perdem.São dicionários com sentidos esconsos;querem ser lavradas,lapidadas diametralmente escandidas peremptória ou afavelmente.Pertencem ao Moraes(Antonio de Moraes e Silva)a Cândido de Figueiredo a Caldas Auletea Laudelino, o Freire.Exceto Petená, Macê, Barbra e Roz,Evrei e alguma outra que flutua no céu da boca... Tantilá!E nunca foi ínsita no dicionário.Evrei há-de chegar à boca como cantiga contigo:Evrei, meu amor!Evrei, minha vida!Como cântico de cântaro fresco,Com-tigo e comi-go... Adeus!
Teu Nome
Como te cai o nome:uma transparência um manto uma armadura um engodo?
É talvez um sinal de amigo,uma herança uma tempestade emocional?Levas o teu nome por campos e caminhos.Passas amargurado,tu passas indelével e ele te segueou te puxa mordendo a lembrança.

I - As Facilidades
Um poema de facilidades nasce em agressão;faz-se de transgressão no suor da epiderme.Quebra a cara pra vestir sua máscara.
Um poema de facilidades mais fácil cuida da imagem:veste-se de petit-pois cuidando de carnaval.Faz-se no toucador,com make-up esconde as facilidades do poema.Musculação inerte sem cores nem bandeiras.
Ele perde sua substância em caminho. Perde-se.Perde o pulsare o frenesi da composição.Rende-se ao lay-out publicitário,em algumas frases de efeito.Um poema de facilidades apanha, costura qualquer matéria dó de peito, imagem e constrói em epigrama,certas lágrimas melancólicas.
Um poema de facilidades não é sebastianista;é traição premiada.Mas sendo obra fraudada não sofre acusação.

II - As Facilidades
Um poema de facilidades não bate tambores não dissemina ânimos.Sequer tem que ver contigo e comigo.É conta da alienação.
Em sua medida quer pendurar-se à parede em cores esfuziantes;gobelins e debruados radiosos enchendo os ares...Em seus guizos ele nos nega por seus sufrágios.
Um poema de facilidades nasce vitorioso por nossas debilidades.

III - As facilidades
Aparecem já vestidas de seus artifícios.Resplandecem de blips com brilho moderno e, até, fazem-se inteligentes.Curvam-se ao bom gosto e fazem sua curvatura com requintada elegância de ossos texturizados...É seu texto, assim,de alguma carpintaria e tanta excelsa valia.Vale mais,para quem caça epigramas para superar o tédio de sua arrivia.Para quem ganha,vai descosturando os seus dias,a quem se arruína com excesso de estima...

IV- As Facilidades
Antecedem o poema.Na sua faina de percussão estão por aí,na sua dialética emotiva como nós e vós nosco e vosco;é sua persuasão.
As facilidades substituem no sangueo estandarte possível.Põem-se em nossa boca ora como mordêncianas rascante papilas ou como anestesia,no palato adocicado pela falsificação.
Canción
Despacito por si
despacito no más,
despacito en si
despacito además.
Entienda-me se for capaz:
Despacito por si
despacito no más:
uma muchacha bonita
e um guapo rapaz
entraram adentro no mato,
ela na frente ele atrás;
pra eles bonito fato,
reclusaram-se em paz...

E tudo o que saberemos
é o ai, ai... que siempre se faz
Ai, ai, ai... ai-ai!... amor demás...
Ela se gemia de espanto
ele cantarolava loquaz.
O lobo uivava no campo,
no mato canoro o alcatraz;
a moça sacudia a trança
que ele agarrava por trás...
Pra quem abisme tal dança
toda fremente soando em fiesta...
pra isso recontei essa gesta...

Cantei o amor e... cantarei esperança:
Despacito por si
despacito por mim.
Despacito no más... sim
despacito además:
um lobo uivava no campo,
no mato, canoro o alcatraz.

As dificuldades
Um poema de dificuldades nasce, por assim dizer,sem jeito e sem começo.Não troca de mão,não empresta sentimento.
É uma coisa bruta,pressentida desde o pulso;forte e timorata.Afirmativa e envergonhada,derrama o pranto juvenil,essa ganga surda efêmera e suspensa como tremor de cabelos brancos.
Ela nos transpõe ao limiarde sentimentos,às vésperas da linguagem;aos muros da tensão onde a vida pode valer nossas astúcias.
Joeirar & Entrigar
Não estava eu a separar o joio do trigo,que o trigo já tivera consumido quando seu deu necessário.
Não estava eu a colher joios, ainda que joeirar seja sincero e exumar a cizânia importante.Porém os joios são só aparências e inadvertências;mas hão de se fazer úteis ditames.
Estava eu a dialetar que o trigo se planta ou não planta; que se imatura ou se floresce e engrana.Ainda que certas pessoas julguem que sempre hão de envilecê-las joios,na pureza dos trigais.E que o trigo,se colhe e bate e se recolhe e moinha com a mó que apolva sobre a pedra viandeira.
E que o pão não se formasem água e algum sale esforço humanopor infermento ázimo;ou fermento natural que azedae se faz mais acre.E talvez o joio tenha sua finalidade.
Ao trigo não só a fome abrasamas o calor das brasasassa nossa espera.E haveremos de comê-lo com feixes de joios para enfeitá-lo em vasos ou cântaros.E terão ânforas; no seu lugar lhe poremos água e não vinho porque não o temos.Todavia, hemos fome e não restam sequer vitualhas sobre a mesa;e ao chão está os pós e as sandálias daqueles que vieram comer.
Nossas faltas
Desculpem a nossa falha, mas eu não tenho coragem nem paciência.Até uso não sirvo.Minha tenças são poucas meus versos são parcos. Não tento mais serventia.João do Pulo perdeu uma perna meu pai, um salto na vida;Camões um olho meu irmão, a claridade de ida.O apontador perdeu o relógio,Maria, um filho prematuro;o supino perdeu a vergonha meu filho, seu nobre rumo. Shirlei perdeu o cabaço,minha mão está bem ferida.
Às voltas sou afeito em circunstância,arrostei-me em semicírculo,arremessei-me nesse currículo e com a conta encerrada soçobro em vida,escassa razão em agonia.

Pequena Elegia
Os homens ganharam seu pão podem comê-lo como o sistema os come.Podem amar em angústia,com amor e tristeza uma carga depositada crava seus ombros a nova marcha.
Podem gritar na noite como animais acuados sua indizível esperança.Podem comer o fumo banhar-se no álcool engolir a paçoca extenuar-se na enxerga povoar a fêmea de ruídose breves pensamentos.

Palavra e Espada
Pende à palavra uma espada com fio de vidro.Nasce tímida a palavra sobre a espada,e queima a boca a palavra em amargo sal.
Flora de perdido hilo em sereno vidro vai amanhecer depois.Agora é espada e seu fio de anúncio e olvido.
Ela tenta seu vôo expande a palavra seu ar de gorjeio.A palavra ameaça eu digo ameaça mas seu pássaro em perigo já não voa.Boca a boca ela resiste.A palavra em sua flora no espaço de suas ervasseu som puro e liberdade.

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